Velho do tempo da outra senhora


Já referi aqui de um pentium 100MHz que recuperei uma vez do lixo, mas até a uns tempos atrás era mais comum do que parece eu apanhar tralha.

Quando morava no meu apartamento da cidade era frequente aos fins-de-semana vasculhar os caixotes de lixo da zona em busca de computadores velhos para os recuperar.

 

 

Ouve uma noite em que fui passear o cão á rua e ao pé dos caixotes de lixo estava um sem-abrigo a descarnar um computador 486, parece que esse pessoal no seu triste e lamentável estado em que qualquer coisa serve para tentar sobreviver, aproveita o cobre das fontes de alimentação e monitores e vendem-no no ferro-velho para ganhar uns trocos.
Acabei por lhe pedir o resto da máquina e ele deu-ma de bom agrado em troca de alguma comida.

A partir desse dia resolvi começar a procurar hardware informático no lixo.

 

 

Quando a gente menos espera, aparecem no lixo coisas porreiras.

 

 

Era algo estranho andar aos caixotes, sempre senti um certo desconforto no olhar reprovador das pessoas que passavam na rua. O certo é que nesses 5 anos encontrei muito material porreiro, e incrivelmente quase sempre a funcionar no geral. Uma vez apanhei um em que apenas o boot do windows 98 estava corrompido, mas o seu dono não se apercebendo deitou a máquina fora pensando que estava avariada.

Entre recolhas de vulgares 486, pentium's I e II, encontrei coisas estranhas, como um portátil 286 com mala e carregador, que era tudo menos portátil, já que no conjunto pesava uns 10 quilos; ou uma colecção de vários Macintosh 68k, que deviam ser de alguma empresa. Lamentavelmente quem os pôs no lixo cortou-lhes os cabos de alimentação de propósito para ninguém os usar. Máquinas que apanhei que não funcionavam na sua totalidade, servia para tirar alguma peça que dava para restaurar outras.


Cheguei ao ponto em que tinha cerca de 10 PC's reparados e a funcionar, entre outra tralha informática, tudo vindo do lixo e tudo sem gastar 1 tostão.

Á uns 3 ou 4 anos os computadores dos caixotes da minha cidade tornaram-se raros e deixaram de aparecer. Penso que um pensamento ecológico mais positivo, o crescimento de lojas tipo cashconverters e o fluxo de emigrantes pobres que poderão aproveitar tais equipamentos, fez com que acabasse esse tipo de lixo.

Acabei por me desfazer da maior parte dessas máquinas á pouco tempo, devido a ter pouco espaço no apartamento e modificações na minha vida. Vendi os melhores simbolicamente, dei a amigos e espalhei os outros velhos computadores pela cidade, talvez numa esperança vã que alguém os recolhesse com carinho e lhes desse vida novamente.


Pensei muitas vezes em disponibilizar-me para ajudar a montar e configurar os velhos Pentium's II que tive e da-los a instituições de idosos, mas sempre tive a sensação que se fizesse tal oferta, mandavam-me dar uma volta.

Preferem ofertas de modernos Pentium's 4 todos XPTO, sem dúvida, também eu!..

O estranho disto tudo é o comum pensamento vulgar do curto tempo de vida de equipamento informático. Parece que fica tudo obsoleto passado 6 meses, um belo truque do mercado. Repito-me nas ideias claro, mas acho que é uma questão séria.
(Nem irei mencionar a nova coqueluche que por ai anda, o Ipad.. ao menos no velho portátil  ainda posso abrir 10 janelas e ouvir música ao mesmo tempo..).

 

O meu velho Commodore 64

 

 

Ainda mais estranho, quando exibo orgulhosamente o meu velho Commodore 64 ainda funcional aos amigos da minha idade, fica tudo saudosista e desejoso de voltar a ter um. Então no que ficamos?..

Velho é fixe mas só se for do tempo da outra senhora?...


publicado por Adelino às 20:59 | favorito
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